Canadá de Trudeau: o novo sonho americano?

O final da 1a Grande Guerra (1914-1918) pôs em evidência os Estados Unidos. Propondo uma vida próspera, valorização do trabalho e uma funcional meritocracia, os americanos disseminaram, com sucesso, o dito “american way of life” e o desejado “sonho americano”. Apesar de ainda ser objeto de desejo de muitos, a vida na América não é mais uma unanimidade entre jovens, imigrantes, refugiados e empreendedores, muito em razão da popularização de correntes conservadoras, racistas e ufanistas dentre os nativos daquele país.

No entanto, o Canadá vem assumindo cada vez mais o espaço deixado pelos EUA, se destacando como um destino que oferece qualidade de vida, oportunidades de estudo e de trabalho e acolhimento. É nesse contexto que algumas políticas de Justin Trudeau, premiê canadense recém reeleito, devem ser analisadas.

Filho de Pierre Trudeau, ex-premiê considerado idealizador do Canadá moderno e de seu multiculturalismo, Trudeau segue algumas das convicções do pai, visto que possui uma agenda político-econômica amplamente favorável à imigração, à ajuda humanitária e ao apoio ao empreendedorismo. Enquanto decide se fará alguma mudança em seu gabinete, o PM continuará sua busca pelo pleno cumprimento de suas promessas eleitorais, que remontam a 2015.

Estudando com maior atenção a imigração e o empreendedorismo, temos:

Em 2019, o Canadá recebeu cerca de 340 mil novos residentes permanentes. Em 2021, Trudeau espera aumentar esse número em 60 mil, alcançando 400 mil indivíduos; além disso, quer aumentar a cota em 10 mil a cada ano, chegando a 420 mil em 2023. Existem ainda os 800 mil trabalhadores temporários e estudantes internacionais que foram admitidos no país também em 2019. Tais números refletem a vontade de promover a imigração, a qual pode ocorrer por diferentes motivos: trabalho, estudos, refúgio ou asilo, busca por qualidade de vida etc. É preciso, entretanto, entender que essa valorização do estrangeiro ocorre especialmente em razão da necessidade de mão de obra, visto que o país apresenta uma taxa de fecundidade insuficiente para manter o equilíbrio demográfico desde 1972, segundo o Banco Mundial. Ao longo dos anos, esse fato foi assimilado pelos canadenses e, hoje, o estímulo à imigração é uma pauta comum entre liberais e conservadores, apesar de ser recebida com maior atenção pela corrente de Trudeau. Atualmente, o governo busca incentivar a entrada de pessoas qualificadas, com destaque para aquelas que dominam a língua francesa.

Em termos humanitários, o maior país das Américas também é o maior receptor de refugiados do mundo, tendo superado, em 2018, ainda no primeiro mandato de Trudeau, os Estados Unidos, segundo o Comissariado das Nações Unidas Para Refugiados (UNHCR).

Já em questões econômicas, o atual governo prega valorizar a inovação e a equidade fiscal e promete ajudar os negócios e os empreendedores na recuperação econômica pós-pandemia. Dando maior atenção à diversidade no mercado nacional, Trudeau já criou incentivos e planos de ajuda econômica. Em setembro de 2020, por exemplo, anunciou um programa de apoio ao empreendedorismo negro, prometendo cerca de C$221 milhões (R$ 955,7 milhões) em fundos destinados para a fomentação desse mercado.

Vê-se, então, que o cultivo do multiculturalismo e a diversidade fazem parte do projeto de país de Justin Trudeau e foram apenas reforçados com sua vitória nas últimas eleições, ratificando as oportunidades e o “sonho canadense”.

Artigo de Pedro Yunes, estagiário na GC5 International Trade Consulting.

Trudeau's Canada: the new American dream? 

The end of the First World War (1914-1918) highlighted the United States. Proposing a prosperous life, work appreciation and a functional meritocracy, the Americans successfully disseminated the so-called "American way of life" and the desired "American dream". Although it is still an object of desire for many, life in America is no longer unanimous among young people, immigrants, refugees and entrepreneurs, largely due to the popularization of conservative, racist and nacionalistic currents among the natives of that country. 

However, Canada is increasingly taking over the space left by the USA, standing out as a destination that offers quality of life, study and work opportunities and hospitality. It is in this context that some policies of Justin Trudeau, the recently re-elected Canadian Prime Minister, should be analysed. 

Son of Pierre Trudeau, a former Prime Minister considered to be the idealiser of modern Canada and its multiculturalism, Trudeau follows some of his father's convictions, as he has a political-economic agenda that is largely favourable to immigration, humanitarian aid and support for entrepreneurship. While deciding whether to make any changes in his cabinet, the PM will continue his quest to fully deliver on his election promises, which date back to 2015. 

Taking a closer look at immigration and entrepreneurship, we have: 

In 2019, Canada welcomed about 340,000 new permanent residents. In 2021, Trudeau hopes to increase that number by 60,000, reaching 400,000 individuals; in addition, he wants to increase the quota by 10,000 each year, reaching 420,000 in 2023. There are also the 800,000 temporary workers and international students who have been admitted to the country in 2019 as well. Such numbers reflect the will to promote immigration, which can occur for different reasons: work, study, refuge or asylum, search for quality of life, etc. It is necessary, however, to understand that this valorisation of foreigners occurs especially due to the need for labour, as the country has had an insufficient fertility rate to maintain demographic balance since 1972, according to the World Bank. Over the years, this fact was assimilated by Canadians and, today, encouraging immigration is a common agenda between Liberals and Conservatives, although it is received with more attention by Trudeau’s current. Currently, the government is trying to encourage the entry of qualified people, especially those who speak French. 

In humanitarian terms, the largest country in the Americas is also the largest recipient of refugees in the world, having overcome the United States in 2018, still in Trudeau's first term, according to the United Nations High Commissioner for Refugees (UNHCR). 

On economic issues, meanwhile, the current government preaches valuing innovation and fiscal equity and promises to help business and entrepreneurs in the post-pandemic economic recovery. Paying greater attention to diversity in the domestic market, Trudeau has already created incentives and economic aid plans. In September 2020, for instance, he announced a programme to support black entrepreneurship, promising some C$221 million in funds earmarked to foster this market. 

It can be seen, then, that the cultivation of multiculturalism and diversity are part of Justin Trudeau's country project and were only reinforced with his victory in the last elections, ratifying the opportunities and the "Canadian dream".

Article by Pedro Yunes, intern at GC5 International Trade Consulting.

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